3 K’s – Kaizen, Kaikaku e Kakushin: O que são e como utilizar?

A filosofia Lean vem sendo cada vez mais aplicada em empresas de diversas áreas de atuação por conta da sua alta eficiência e entrega de resultados. Sendo assim, usar aplicações dos 3 K’s: Kaizen, Kaikaku e Kakushin de forma conjunta pode proporcionar grandes resultados.

Mas para a sua aplicação, faz-se necessário que diversas ferramentas sejam utilizadas de acordo com as reais necessidades da empresa.

Os 3K’s são metodologias que trabalham por etapas dentro de uma organização, alterando assim o pensamento das pessoas e os processos.

É muito mais fácil conseguir gerar uma grande transformação alterando uma coisa por dia do que tentar alterar tudo de uma única vez.

De modo geral, quando citamos o Lean, uma das primeiras metodologias que pensamos é o Kaizen, que consiste em orientar todo o processo para a melhoria contínua.

No entanto, quanto mais nos aprofundamos na filosofia Lean, podemos encontrar o Kaikaku e Kakushin, que são semelhantes ao Kaizen, mas não são a mesma coisa.

Quer saber mais sobre o que é e como utilizar cada um dos 3 K’s: Kaizen, Kaikaku e Kakushin?

Então a seguir iremos te explicar tudo o que você precisa saber sobre cada um deles e como fazer a sua utilização de modo correto para atingir a melhoria contínua.

O Que é Kaizen?

Kaizen é uma palavra originária da língua japonesa onde Kai significa “mudança” e Zen “para melhor”.

Esse termo japonês surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, onde depois de servir como uma linha de suprimentos para os Estados Unidos, o próprio EUA ajudou na reconstrução das indústrias japonesas.

Sendo definido como uma metodologia de melhoria contínua, o Kaizen pode ajudar a melhorar a qualidade dos processos, o que consequentemente gera uma melhora na qualidade do produto final.

Além disso, como objetivo dessa metodologia temos a melhoria da produtividade, redução de desperdícios, eliminação de trabalho pesado que não agrega nada no processo e tornar o local de trabalho mais agradável.

O Kaizen fazia parte originalmente do TPS (Sistema Toyota de Produção), tendo a sua origem na manufatura enxuta e sendo uma forma de envolver todos os funcionários para melhorar a qualidade do produto.

Desde então, o Kaizen se tornou um dos principais fatores de sucesso das empresas japonesas, que se tornaram modelos para as outras, fazendo com que o Kaizen fosse disseminado pelo mundo.

3 M’s (MUDA – MURA – MURI)

Uma representação do muda, mura e muri

O Kaizen é extremamente eficiente, principalmente quando o assunto é atuar na identificação dos três tipos básicos de desperdícios que devem ser eliminados do processo.

Esses desperdícios são definidos como os 3 M’s (muda, mura e muri). Veja a seguir um pouco sobre cada m.

Muda (desperdício)

A Muda significa desperdícios e consiste em qualquer atividade que passe a consumir recursos sem que nenhum valor seja criado para o cliente.

Essas atividades que não geram valor nenhum para o cliente devem ser eliminadas, exceto se for atividades essenciais para a conclusão do processo.

Existem dois tipos de mudas, a muda 1 e a muda 2. A muda tipo 1 é definida como atividades que não podem ser eliminadas de forma rápida do processo ao utilizar o Kaizen.

Já a muda tipo 2 consiste na movimentação em excesso de produtos e estoques no meio das etapas de um processo de produção, por exemplo, onde esse desperdício pode ser facilmente eliminado com o Kaizen.

Mura (inconstância ou variação)

A Mura significa que há falta de regularidade em uma determinada operação.

Os altos e baixos de uma produção, que não são definidos pela demanda, mas sim pela programação de produção, podem ser definidos como o desperdício (Mura) em um processo.

Muri (sobrecarga)

O Muri significa uma sobrecarga de equipamentos ou operadores, o que passa a exigir que a operação ocorra de modo mais intenso, onde muitas vezes esse esforço não seria necessário caso ocorresse o nivelamento das cargas.

O Que é Kaikaku?

A aplicação do Lean em uma empresa exige mudanças que muitas vezes podem ser consideradas radicais.

Dessa forma, surge o conceito Kaikaku, que consiste na junção da palavra mudança mais radical, gerando assim uma grande melhoria após a implantação.

A imagem mostra a comparação do Kaizen, Kaikaku e Kakushin

Por gerar grandes melhorias é que o Kaikaku exige mudanças que são consideradas radicais.

É justamente nisso que o Kaikaku se difere do kaizen, pois o kaizen traz uma melhoria contínua, que é conquistada de modo gradual e o Kaikaku exige essa mudança de forma mais brusca.

De modo geral, o Kaikaku está associado a problemas que exigem que as alterações sejam feitas de forma imediata e mais eficaz, geralmente para projetos maiores.

A aplicação do Kaikaku exige também a instalação de softwares como o ERP (Enterprise Resource Planning), onde este terá um impacto significativo no processo dentro da empresa, fazendo com que os desperdícios sejam reduzidos de forma mais rápida nas etapas do processo.

Embora o seu resultado seja muito mais rápido e eficaz, o Kaikaku oferece mais riscos do que a aplicação do Kaizen, justamente por ter uma aplicação mais direta e não gradual, fazendo com que os envolvidos no processo não tenham tempo de se adaptar às mudanças.

10 mandamentos de Kaikaku

A implantação do Kaikaku muitas vezes é polêmica pelo fato de ser um método que revolucionou os modos de fabricação, quebrando qualquer paradigma existente na empresa.

Como o seu objetivo é conquistar grandes melhorias em um tempo mais curto, antes de começar a implantação é bom ter uma sólida base teórica.

Por conta disso, entender os 10 mandamentos do Kaikaku pode ser bem interessante quando o assunto é fazer com que você atinja os seus objetivos.

Veja a seguir os 10 mandamentos de Hiroyuki Hirano.

1 – Abra mão do conceito tradicional dos métodos de fabricação;

2 – Mentalize de que forma o novo método criado irá funcionar ao invés de pensar em como o método pode não funcionar;

3 – Rejeite desculpas e questione sobre a situação atual;

4 – Negue sempre o status quo e esteja sempre pronto para começar novamente se for necessário;

5 – Não busque a perfeição de forma imediata, pois um projeto implementado 50% é muito melhor se a implantação for imediata e vale muito mais do que 100% planejado;

6 – Corrija os erros assim que conseguir identificá-los;

7 – Não tente inventar a roda. Não gaste dinheiro, tente otimizar o que você já tem;

8 – Os problemas devem ser resolvidos e eles te dão a chance de usar o cérebro para achar a solução;

9 – Faça uso da técnica dos cinco porquês e solucione a causa raiz do problema;

10 – Busque sempre trabalhar em equipe, pois as ideias de 10 pessoas são melhores do que o conhecimento de apenas uma. Mais pessoas juntas podem produzir melhores ideias.

Os Cinco porquês

Os cinco porquês consistem em uma técnica criada por Sakichi Toyoda. Desde que foi criada na década de 30 essa técnica vem sendo amplamente utilizada por conta da sua eficiência e simplicidade de aplicação.

Para aplicar os cinco porquês basta perguntar 5 vezes o motivo de um problema ou determinado defeito ter acontecido.

A finalidade do questionamento é descobrir qual é a verdadeira causa do problema, chamada assim de causa raiz.

Para colocar em prática essa técnica você não precisa perguntar o porquê necessariamente 5 vezes, mas sim a quantidade de vezes que seja necessária para conseguir encontrar a causa raiz do problema a ser analisado.

Quando a técnica foi criada, Sakichi recomendou o número 5 como sendo o ideal, mas com o tempo foi percebido que isso depende muito de diversos contextos dentro da empresa.

Com isso, é necessário perguntar o porquê até que essa pergunta não possa mais ser feita.

Otimize o que você tem

Um dos 10 mandamentos presentes no Kaikaku consiste em não gastar dinheiro comprando muitas máquinas e equipamentos novos, de alta tecnologia, mas sim otimizar o que nós já temos disponível para uso.

Isso nos força a trabalhar somente com o essencial e com o que temos, evitando gasto de dinheiro desnecessário.

O Kaikaku preza por remodelar a nossa forma de pensar e nos motivar a fazer coisas novas, mesmo que a mudança não possa ser implementada de forma imediata como gostaríamos, mas a mudança é sempre bom, devendo ser deixado de lado assim a estática e o mesmo modo de sempre fazer as coisas.

O que realmente importa no processo é o resultado obtido.

O melhor de incentivar essa filosofia é que as ideias que são boas podem agregar muito mais valor ao processo do que o ato de gastar dinheiro.

Utilize o Kanban como gestor de atividades

Sendo responsável por proporcionar mudanças radicais ao ambiente de trabalho, o Kaikaku pode mudar todos os velhos hábitos dos colaboradores que atuam no processo de fabricação.

Tudo isso pode gerar transtornos no processo, já que se faz necessário desapegar das práticas antigas para se adaptar ao modelo novo.

Dessa forma, o kanban pode ser uma ótima ferramenta de gestão visual que pode auxiliar na implantação do Kaikaku no processo de fabricação, por exemplo.

O Que é Kakushin?

O Kakushin significa de forma resumida inovar e renovar o atual estado da organização.

Esse conceito faz com que uma empresa seja retirada da sua situação atual e levada para um estado futuro de mudanças desejadas.

Gráfico comparando empresas tradicionais e as que usam Kakushin, Kaizen e Kaikaku

Com o Kakushin é possível aprender, até mesmo as mesmas coisas, de um modo diferente.

Além disso, Kakushin retrata novas formas de pensar, agir e atua também em toda uma transformação cultural no ambiente de trabalho, já que implica na mudança de atitudes e comportamentos dos indivíduos.

A abordagem acontece de cima para baixo

O Kakushin consiste em uma técnica que se direciona de cima para baixo, ou seja, os líderes e cargos superiores são os responsáveis por adotar a abordagem Kakushin e fazer com que ela seja disseminada aos outros colaboradores.

Essa abordagem que parte dos líderes pode ser do tipo reativa, onde ocorre a ação com base na análise dos pontos problemáticos, mas também pode ser proativa, que age de forma antecipada aos pontos problemáticos.

Dessa forma é possível aumentar a produtividade nos processos, gerar mais lucros, melhorar a satisfação dos clientes por conta do aumento da qualidade no produto final e outros.

Atua na melhoria de processos

O Kakushin possui uma forte relação com a melhoria de processos, pois atua de ponta a ponta, agregando assim valor ao produto final e eliminando etapas que não agregam nenhum valor.

Não basta apenas melhorar os processos por melhorar, é necessário que essa melhora tenha uma razão e esteja alinhada com os valores e direcionamentos da organização.

Para que haja a otimização de processos podem ser adotadas no Kakushin diversas ferramentas enxutas como o mapeamento do fluxo de valor, A3, PDCA (Planejar – Fazer – Verificar – Agir).

Melhora o desenvolvimento e capacidade do colaborador

Um dos fatores mais importantes para que a aplicação de metodologias de melhoria contínua e uma transformação enxuta possam dar certo são as pessoas que fazem parte dos processos da empresa.

É praticamente impossível conseguir sucesso se não oferecermos aos colaboradores a capacidade de se desenvolver e capacitar intelectualmente.

Até mesmo por conta disso é importante contar com treinamentos sobre a transformação enxuta para que as pessoas saibam qual é a sua real importância e o que fazer para atingi-la.

Decisões tomadas com base em dados

Em uma empresa que preza pela filosofia Lean, todos os funcionários devem ter atitudes proativas e pensamentos de liderança.

Com o Kakushin é possível conseguir um sistema de gerenciamento que faça com que os líderes tomem atitudes com base em dados reais e não do que ele acredita ser a atitude correta.

Isso torna as atitudes mais assertivas e faz com que o processo ocorra de modo mais eficiente.

Concluindo

A filosofia do pensamento enxuto muda a forma como as pessoas pensam e agem no seu ambiente de trabalho.

Os 3 K’s: Kaizen, Kaikaku e Kakushin são metodologias que ajudam nessa mudança de pensamentos e ações.

Para que essas mudanças ocorram da melhor forma possível é necessário que haja um bom planejamento estratégico e que a liderança sempre se mostre como um espelho para os funcionários, já que os líderes possuem o papel de servir como exemplo para os seus liderados e têm também a capacidade de influenciar em seus comportamentos.

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